Estudo aponta oito novos projetos de gasodutos no Brasil, totalizando R$ 29 bilhões em investimentos e a geração de mais de 80 mil empregos
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentou a quarta edição do Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG) – 2024, que consolida a estratégia para a expansão da infraestrutura de gás natural e biometano no Brasil. O lançamento, realizado no Rio de Janeiro e transmitido ao vivo, também abordou as novidades relacionadas ao Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano (PNIIGB), atualmente em desenvolvimento pela EPE.
O PIG 2024 apresenta estudos de oferta e demanda para projetos indicativos de gasodutos que poderão ser implementados nos próximos anos. De acordo com o presidente da EPE, Thiago Prado, o plano reforça a necessidade de interiorizar o gás natural no Brasil, ampliar a conexão do biometano à malha integrada e impulsionar a integração gasífera da América do Sul.
“O compartilhamento de infraestrutura não só viabiliza o biometano como uma alternativa renovável e competitiva, mas também abre espaço para outros mercados, como o hidrogênio”, destacou Prado.
Novos projetos e impactos econômicos
O estudo mapeou oito projetos indicativos de gasodutos de transporte, totalizando aproximadamente 2.300 km de extensão. Entre eles, dois serão abastecidos por biometano e dois por gás natural argentino.
Os investimentos estimados nesses projetos ultrapassam R$ 29 bilhões, com expectativa de geração de mais de 80 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil pode chegar a R$ 16 bilhões (0,15%), dependendo do traçado final escolhido para cada projeto.
PNIIGB: planejamento para a infraestrutura de gás e biometano
O Plano Nacional Integrado das Infraestruturas de Gás Natural e Biometano (PNIIGB) foi estabelecido pelo Decreto nº 12.153/2024 dentro do programa Gás para Empregar. O objetivo é estruturar o desenvolvimento do setor de gás natural e biometano no Brasil para os próximos 10 anos, organizando a infraestrutura necessária para suprir a demanda crescente do país.
Heloisa Borges, Diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE, enfatizou a importância da participação social no processo de elaboração do plano.
“Precisamos da contribuição da sociedade para garantir um planejamento robusto e alinhado às necessidades do setor. Todos os questionamentos e informações relevantes serão considerados na construção do documento”, afirmou.
Os próximos passos do PNIIGB envolvem a publicação de uma nota técnica e a abertura de consulta pública sobre a metodologia do plano em março. Já em abril será lançada uma chamada pública com o objetivo de estimar a demanda efetiva por serviços de infraestrutura, além de avaliar o potencial de oferta e demanda de gás natural e biometano.
Biometano e a transição energética
Um dos principais destaques do PIG 2024 é o papel do biometano na matriz energética nacional. Segundo Henrique Rangel, Analista de Pesquisa Energética da EPE, o biometano é intercambiável com o gás natural, podendo utilizar a mesma infraestrutura logística e equipamentos.
Essa característica faz do biometano uma solução viável para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa. O crescimento desse mercado também favorece a valorização de resíduos orgânicos, que servem como matéria-prima para a produção do gás renovável.
Integração energética com a América do Sul
O presidente da EPE destacou ainda a importância do Brasil no contexto da integração gasífera sul-americana. As reservas de shale gas (gás de xisto) da Argentina, especialmente na região de Vaca Muerta, estão entre as maiores do mundo e podem desempenhar um papel fundamental na segurança energética brasileira.
“A integração com outros países da América do Sul abre novas possibilidades de comércio e investimentos no setor de gás. Com a construção de uma rede de gasodutos eficiente, podemos maximizar o potencial da região e diversificar nossa matriz energética”, afirmou Prado.
O Brasil e a Argentina já firmaram um Memorando de Entendimento sobre o tema durante a última cúpula do G20, e o Ministério de Minas e Energia (MME) tem expectativas de que a importação de gás argentino traga redução nos preços para os consumidores brasileiros.
“A concorrência estimula a competitividade, e queremos ampliar as opções de fornecimento de gás no Brasil para reduzir custos e fortalecer a indústria”, destacou Marcello Weydt, Diretor do Departamento de Gás Natural do MME.
Perspectivas para o setor de gás no Brasil
O avanço da infraestrutura de gás natural e biometano no Brasil representa um passo fundamental para a segurança energética e a descarbonização da matriz energética nacional.
Os investimentos em novos gasodutos, a integração com países vizinhos e a consolidação do biometano como alternativa renovável reforçam a posição do Brasil como um player estratégico no mercado global de energia.