Estatal entra em nova fase estratégica com venda de 5,7 toneladas de U₃O₈ para o mercado global
A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) deu um passo importante rumo à internacionalização de seus negócios ao receber autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para exportar cerca de 5,7 toneladas de pó de U₃O₈ (óxido de urânio) enriquecido a 3,2% de urânio-235. A venda será realizada por meio de Oferta Pública, possibilitando uma disputa aberta pelo maior preço e posicionando a estatal brasileira como uma nova participante no setor nuclear global.
Adauto Seixas, presidente da INB, celebrou a medida como um avanço estratégico para a empresa. “Essa iniciativa representa um avanço estratégico para a INB, demonstrando nossa capacidade de gestão eficiente de ativos e aproveitamento de oportunidades comerciais no setor nuclear internacional”, afirmou.
Aproveitamento de oportunidades comerciais
O material que será exportado foi importado em 2016, fruto de uma decisão judicial favorável à empresa no exterior. Desde então, o pó de U₃O₈ encontra-se armazenado na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), localizada em Resende, no Rio de Janeiro.
No entanto, o material não é adequado para os processos operacionais da fabricação de combustível nuclear nacional, o que inviabilizou seu aproveitamento para o abastecimento das usinas de Angra dos Reis. Diante dessa condição, a exportação foi escolhida como a melhor alternativa, permitindo à INB liberar espaço físico para armazenar matéria-prima mais adequada e garantir a continuidade dos processos de fabricação de combustível nuclear.
Além de otimizar o espaço e os recursos da empresa, a operação vai gerar novas receitas que poderão ser aplicadas em investimentos estratégicos da estatal, como melhorias em infraestrutura, tecnologia e segurança no setor nuclear brasileiro.
Próximos passos e regulamentação internacional
Com a definição do comprador por meio da Oferta Pública, a INB iniciará o processo de obtenção da Licença de Exportação. Essa autorização envolve não apenas o Ministério das Relações Exteriores, mas também o Controle de Bens Sensíveis, supervisionado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A exportação de materiais nucleares é uma operação delicada, sujeita a rigorosos padrões de segurança e regulamentações internacionais, devido ao potencial uso dual do urânio enriquecido. A INB reforçou seu compromisso em seguir todos os protocolos necessários, garantindo a transparência e a segurança em cada etapa da operação.
“Com essa operação, reafirmamos nosso compromisso com a eficiência e a sustentabilidade do setor nuclear brasileiro, consolidando nossa presença no mercado internacional”, destacou Adauto Seixas.
Impacto no setor nuclear brasileiro
Essa operação coloca a INB em um novo patamar no mercado nuclear global, ampliando sua capacidade de atuação internacional e aumentando a competitividade da estatal. Para o Brasil, a venda de urânio enriquecido ao mercado externo representa uma oportunidade de mostrar a maturidade do país no setor nuclear e sua habilidade de atuar em mercados regulados e de alta complexidade.
Além disso, o uso estratégico do espaço liberado e dos recursos financeiros obtidos com a venda contribuirá para o fortalecimento da cadeia produtiva do combustível nuclear no Brasil. Isso é fundamental para manter o abastecimento das usinas de Angra dos Reis e, futuramente, para possíveis expansões do programa nuclear brasileiro.
Com essa nova operação, a INB mostra-se preparada para aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado nuclear global e reafirma seu papel como protagonista no setor energético brasileiro.