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Brasil e EUA: uma amizade histórica sem aliança estratégica duradoura

Brasil e EUA - uma amizade histórica sem aliança estratégica duradoura

Dossiê do Cebri aponta oportunidades e desafios para uma relação mais colaborativa entre as duas potências no âmbito do G20

Apesar de décadas de interação amistosa, Brasil e Estados Unidos nunca consolidaram uma aliança estratégica duradoura. Essa análise foi detalhada no “Dossiê Brasil-Estados Unidos: Um Diálogo Estratégico sobre Cooperação no âmbito do G20”, lançado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) em parceria com seis dos principais think tanks norte-americanos. O documento explora as potencialidades e os obstáculos para uma cooperação mais efetiva, abordando temas como mudanças climáticas, transformação digital e governança multilateral.

O evento de lançamento, realizado nesta sexta-feira (6), reuniu nomes de peso na discussão bilateral, como Peter Hakim, presidente emérito do Inter-American Dialogue, e Nidhi Upadhyaya, do Atlantic Council, com mediação da professora Fernanda Magnotta, senior fellow do Cebri. O consenso entre os participantes foi claro: enquanto a relação é repleta de boas intenções e momentos de parceria, ainda carece de uma estrutura prática e estável para enfrentar os desafios globais e regionais de forma conjunta.

Oportunidades de cooperação: clima, tecnologia e energia

Uma das principais áreas de convergência apontadas pelos especialistas é a questão climática. “A adaptação às mudanças climáticas é uma necessidade urgente para ambos os países”, destacou Nidhi Upadhyaya. Ela exemplificou com os extremos climáticos enfrentados este ano: enchentes devastadoras no Brasil e ondas de calor extremo nos Estados Unidos. Para ela, políticas ambientais conjuntas e o engajamento do setor privado são essenciais para a criação de soluções sustentáveis.

Nesse contexto, Valentina Sader, também do Atlantic Council, sugeriu três áreas prioritárias de colaboração: adaptação climática, transição energética e soluções baseadas na natureza. Jeremy Martin, do Institute of the Americas, complementou ao apontar que Brasil e EUA, líderes na produção de biocombustíveis, podem avançar para tecnologias de segunda geração, como combustíveis sustentáveis para aviação, utilizando resíduos agrícolas.

O potencial tecnológico também foi destacado como um campo promissor para cooperação. Henry Ziemer, do Center for Strategic and International Studies, acredita que a inteligência artificial pode ser uma ferramenta estratégica para unir as nações. “A tecnologia americana pode impulsionar inovações brasileiras nessa área, especialmente em setores voltados para o futuro, como mineração e transição energética”, afirmou.

Governança global e o papel do Brasil

O dossiê também discute o papel do Brasil em instituições multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU. A exclusão do país desse órgão é vista como um ponto sensível nas relações bilaterais. No entanto, Sarang Shidore, do Quincy Institute, propôs reformas que ampliem a representatividade do Sul Global, incluindo o Brasil. Ele sugeriu uma nova categoria de assentos semi-permanentes no Conselho, reconhecendo as diferentes potências dentro do Sul Global.

Já Luiza Duarte, do Wilson Center, foi mais cética em relação a mudanças significativas na ONU, mas apontou o G20 como um espaço viável para aprofundar a cooperação. Para ela, iniciativas como inclusão digital universal e infraestrutura digital pública são áreas nas quais Brasil e EUA podem construir pontes concretas.

Desafios à frente: interesses divergentes e mudanças políticas

Apesar das oportunidades, os especialistas reconhecem os desafios. Peter Hakim chamou atenção para a falta de consistência histórica na cooperação entre os países, mencionando “oportunidades perdidas” ao longo dos anos. Ele citou a situação na Venezuela como um exemplo de interesse comum, mas com abordagens distintas.

Além disso, as mudanças políticas nos dois países adicionam um elemento de imprevisibilidade. A possível volta de Donald Trump à presidência dos EUA foi vista com ceticismo por alguns analistas, como Luiza Duarte, que acredita que isso pode limitar as ambições de reforma global.

No entanto, há um consenso de que, apesar das diferenças, Brasil e EUA têm muito a ganhar com uma relação mais colaborativa e estratégica, especialmente em áreas de interesse mútuo, como energia limpa, governança digital e adaptação climática.

Um caminho de possibilidades

O dossiê do Cebri não apenas reforça a importância de uma parceria mais sólida entre Brasil e Estados Unidos, mas também sugere que o momento para essa transformação é agora. A presidência brasileira do G20 em 2023 oferece um palco ideal para aprofundar diálogos e consolidar ações conjuntas.

Com interesses compartilhados e desafios globais em comum, as duas nações podem deixar de ser apenas “amigos” e finalmente se tornarem aliados estratégicos – uma transformação que pode moldar o futuro não apenas dos dois países, mas também da governança global.

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