Painel no Consórcio da Amazônia discute estratégias e parcerias para acelerar a transição energética e reduzir emissões de carbono
Na COP29, em Baku, líderes do setor privado, representantes do governo e especialistas em clima se reuniram para abordar um dos maiores desafios ambientais do Brasil: a descarbonização. No painel “Estratégias de descarbonização e apoio à missão 1,5° – papel estratégico do setor privado na transição energética para a descarbonização do Brasil”, realizado no pavilhão do Consórcio da Amazônia, foram discutidos os gargalos que dificultam a parceria entre o governo e a iniciativa privada na promoção da transição energética no país.
André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), abriu a discussão destacando a fala de Jeffrey Sachs, economista norte-americano e diretor da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que fez uma exposição sobre as estratégias de financiamento para o desenvolvimento sustentável. Sachs defendeu uma mudança na forma de investimento climático, propondo um modelo que vá além do financiamento tradicional e passe a investir em liquidez para alavancar o setor privado. “Ele disse que não basta colocar o dinheiro disponível no sistema da ONU; é preciso alavancar esses recursos e incentivar o setor privado a investir de forma ativa na transição energética”, explicou Guimarães.
Papel Estratégico do Setor Privado
O painel trouxe à tona o papel crucial do setor privado, que não pode ser visto apenas como um fornecedor de capital, mas como um parceiro ativo na implementação de estratégias de baixo carbono. Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e fellow sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), destacou que a descarbonização exige uma revisão da relação entre governo e empresas. “O empresário precisa ver um ganho real em investir em sustentabilidade. Na Europa, 12% das empresas já estão se distanciando dos compromissos climáticos, uma tendência que precisamos evitar no Brasil”, afirmou Teixeira, pontuando que a falta de incentivos pode levar o setor privado a priorizar negócios menos sustentáveis.
Marcello Brito, secretário-executivo do Consórcio da Amazônia Legal, reforçou a necessidade de que essa parceria entre setor privado e governo seja prática e eficiente. Para ele, a burocracia e a lentidão nos processos de licenciamento ambiental desestimulam investimentos em projetos sustentáveis, elevando custos e comprometendo a atratividade para empresas. “Não podemos levar uma década para licenciar um projeto que traz benefícios à sociedade e que contribui para o cumprimento das metas climáticas”, afirmou Brito, apontando a urgência em simplificar processos e tornar o Brasil mais atrativo para investimentos verdes.
Planejamento de Longo Prazo e a Indústria de Transportes
Outro ponto relevante discutido no painel foi o papel da descarbonização na indústria e no setor de transportes. Mariana Espécie, assessora especial do Ministério de Minas e Energia (MME), enfatizou que a transição energética precisa ser planejada para os próximos 10 anos, com foco na redução de emissões tanto na indústria quanto no transporte. “Temos que olhar para o futuro e definir metas ambiciosas para esses setores, que são responsáveis por grande parte das emissões de carbono no Brasil”, disse Espécie.
O debate destacou ainda que, para atingir os objetivos de descarbonização de forma eficaz, é necessário haver um alinhamento entre as políticas nacionais e os investimentos privados. Segundo Espécie, o setor de transporte e a indústria podem contribuir significativamente para reduzir as emissões de carbono, mas isso dependerá de políticas de incentivo e de apoio a tecnologias mais limpas.
Iniciativas de Descarbonização no Pará
Os representantes estaduais também abordaram iniciativas regionais para a descarbonização. Rodolpho Zaluth, secretário adjunto de gestão e regularidade ambiental do Pará, mencionou o avanço de projetos de descarbonização no setor industrial do estado. Empresas como a Hydro, importante player da mineração, têm feito investimentos em modernização para reduzir a pegada de carbono na cadeia produtiva.
Anderson Baranov, CEO da Hydro, detalhou que a empresa implementou medidas para descarbonizar sua matriz energética, incluindo a substituição do óleo combustível por fontes mais limpas em suas caldeiras. “Esse projeto de descarbonização representa uma redução de 620 mil toneladas de carbono por ano, uma quantidade significativa que contribui para o compromisso de sustentabilidade do Brasil”, afirmou Baranov. Além de reduzir suas próprias emissões, a Hydro trabalha para criar uma cadeia de suprimentos mais sustentável, inspirando outras empresas a seguir o mesmo caminho.
Um Compromisso Coletivo pelo Clima
A COP29 reforçou o papel crucial da colaboração entre o setor público e privado na luta contra as mudanças climáticas. Para que o Brasil avance em sua agenda de sustentabilidade e atinja suas metas de descarbonização, será essencial reconstruir a relação entre empresas e governo, criando um ambiente regulatório mais favorável e menos burocrático. Além disso, a implementação de estratégias e investimentos direcionados para setores como transporte e indústria são fundamentais para o sucesso da transição energética.
A reunião em Baku demonstra que, com incentivo adequado e uma visão pragmática, o Brasil pode tornar suas atividades econômicas menos poluentes, atraindo investimentos e consolidando-se como um líder global na sustentabilidade. A colaboração proposta na COP29 não só acelera o cumprimento dos compromissos do Acordo de Paris, mas também cria um modelo de desenvolvimento sustentável que alia economia e preservação ambiental, em um esforço conjunto entre o governo e o setor privado.