Discussões sobre biocombustíveis, eletrificação, hidrogênio verde e materiais críticos marcam o evento “Caminhos para a Transição Energética” em São Paulo
Brasil tem a capacidade de atender à crescente demanda energética global, especialmente no que se refere às energias renováveis, mas ainda enfrenta um desafio significativo: o alto custo de sua energia, o que limita sua competitividade no cenário internacional. Essa foi uma das principais mensagens trazidas por Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners, durante o evento “Caminhos para a Transição Energética”, realizado no AYA Hub, em São Paulo.
O evento, que faz parte da agenda pré-Climate Week, reuniu líderes de diversos setores, incluindo Luciana Costa, Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, e representantes de grandes empresas como Volkswagen, Comerc, GranBIO e ABBéolica, para discutir os principais desafios e oportunidades da transição energética no Brasil. A agenda incluiu debates sobre materiais críticos, mobilidade elétrica, SAF (Sustainable Aviation Fuel), biocombustíveis, hidrogênio verde e o necessário arcabouço regulatório para o desenvolvimento sustentável no país.
O Brasil no Cenário Global de Transição Energética
Durante sua palestra, Patricia Ellen destacou o imenso potencial do Brasil para ser um dos principais fornecedores de energia limpa no cenário internacional. “O Brasil está em uma posição estratégica para liderar o fornecimento de energia renovável, especialmente com a rápida adoção de tecnologias como energia solar e veículos elétricos. No entanto, apesar do potencial, ainda temos a energia mais cara do mundo”, afirmou.
Ellen enfatizou a importância de políticas públicas para viabilizar essa liderança, citando dados sobre o crescimento global da demanda por energia limpa. “O cenário net-zero prevê que a participação de renováveis na geração de eletricidade aumentará de 25% para 81% até 2050. O Brasil tem todas as condições de aproveitar essa oportunidade, mas precisa superar o obstáculo do alto custo da energia para ser competitivo”, complementou.
Geopolítica e o Papel do Brasil
A geopolítica também foi um ponto central das discussões. Luciana Costa, do BNDES, ressaltou que o Brasil tem uma posição única no mundo, com vantagens regulatórias e diplomáticas que podem ser alavancadas para acelerar a transição energética. “Somos uma democracia estável, com boas relações tanto com o Sul quanto com o Norte Global, e não temos conflitos internacionais. Essas são vantagens que precisamos explorar melhor para impulsionar nosso desenvolvimento energético e econômico”, afirmou Costa.
Ela também alertou para a necessidade de avançar com o arcabouço regulatório verde, destacando que o Brasil ainda está atrasado nesse debate em comparação a outras economias emergentes.
Vantagens Naturais e Desafios Industriais
O CEO da AYA Earth Partners, Eduardo Aranibar, destacou a matriz energética limpa do Brasil como um dos principais diferenciais competitivos do país. “Estamos no fim da era dos combustíveis fósseis, e o Brasil tem uma vantagem única: somos o único país continental com uma matriz elétrica predominantemente renovável. Isso nos coloca em uma posição privilegiada para liderar a transição energética global”, disse Aranibar.
No entanto, o debate também trouxe à tona desafios que o país precisa enfrentar para consolidar essa liderança. A sócia da Deloitte, Maria Emília Peres, mencionou a falta de dados estruturados como um entrave para o desenvolvimento de projetos em áreas como minerais críticos. “O Brasil tem uma enorme oportunidade nesse mercado, mas precisamos de mais estudos e dados robustos para atrair investimentos”, comentou.
Energia Solar e a Ambição Industrial
Rodrigo Sauaia, CEO da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), trouxe uma perspectiva otimista sobre o crescimento da energia solar no Brasil. “Quando começamos, a energia solar representava apenas 0,1% da matriz elétrica brasileira. Hoje, somos o terceiro maior mercado de energia solar no mundo”, destacou Sauaia, apontando que o desenvolvimento de políticas públicas eficazes foi crucial para esse avanço.
Elbia Gannoum, CEO da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), complementou a discussão com uma visão sobre o futuro da indústria eólica no Brasil. “Precisamos ser mais ambiciosos e atrair fábricas e cadeias de produção para o Brasil. O país tem potencial para ser um líder não apenas no uso, mas também na fabricação de equipamentos de energia limpa”, afirmou Gannoum.
Mobilidade Elétrica e Biocombustíveis
Outro tema de destaque foi a eletrificação da frota e a expansão do uso de biocombustíveis. No painel sobre mobilidade urbana, André Vitti, CEO da You.ON, comentou que o crescimento dos veículos elétricos no Brasil ainda é tímido em comparação a mercados como Estados Unidos e China, mas que há grande potencial de expansão. “A demanda por estações de recarga ainda é um desafio, mas com uma melhor previsão de demanda, o cenário pode mudar rapidamente”, afirmou.
Roger Guilherme, da Volkswagen, destacou a importância de monitorar as emissões de carbono de forma rigorosa. “Para alcançarmos a meta de neutralidade em 2050, é fundamental termos um controle preciso das emissões em todas as etapas da cadeia de produção”, ressaltou.