Medida técnica visa reforçar o atendimento nos horários de ponta a partir de agosto, diante de cenário hidrológico desafiador e armazenamento crítico no subsistema Sul
Em resposta a um cenário hidrológico desafiador e com foco na segurança energética do país, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) recomendou, em sua 305ª reunião realizada nesta terça-feira (14/05), a antecipação da operação de usinas termelétricas contratadas no Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) de 2021. A medida tem como objetivo reforçar o atendimento da demanda nos horários de ponta a partir de agosto de 2025, período estratégico para o suprimento energético nacional.
A decisão foi anunciada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) como uma ação preventiva e técnica, considerando os desafios projetados para o equilíbrio entre oferta e demanda no Sistema Interligado Nacional (SIN). “O Ministério de Minas e Energia tomou essa decisão com foco na segurança energética do país, sempre de forma técnica e preventiva”, afirmou o ministro Alexandre Silveira, que participou da reunião de forma remota enquanto retorna de missão oficial à China e à Rússia, acompanhando a comitiva presidencial.
Além da deliberação sobre as térmicas do LRCAP 2021, o comitê debateu a situação crítica do subsistema Sul, que apresenta os menores níveis de armazenamento do país, bem abaixo dos verificados nas demais regiões. Para mitigar os riscos, o CMSE recomendou ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) uma série de ações estratégicas.
Níveis críticos e ações coordenadas
Entre as recomendações está a redução das defluências mínimas em hidrelétricas das bacias da região Sul, a fim de preservar os volumes armazenados. Além disso, o ONS deverá maximizar a transferência de energia de outros subsistemas para a região, inclusive com o eventual despacho de geração termelétrica próxima aos centros de carga. Essa medida visa elevar os limites do intercâmbio energético com o Sul ou, alternativamente, substituir o despacho térmico por fontes competitivas locais.
A atuação articulada entre os agentes do setor será fundamental para garantir que, mesmo diante de um cenário adverso, o abastecimento seja mantido com segurança e eficiência.
Hidrologia e energia natural afluente abaixo da média
Os dados apresentados pelo CMSE refletem um quadro hidrometeorológico preocupante. Durante o mês de abril, as precipitações foram concentradas nas bacias do Sudeste, no rio Paraná, Madeira e em partes dos rios Araguaia, Xingu e Tapajós. Porém, nas demais regiões hidrelétricas do SIN, os volumes ficaram abaixo da média climatológica.
A Energia Natural Afluente (ENA) de abril foi inferior à média histórica em todos os subsistemas: Sudeste/Centro-Oeste com 84% da MLT, Sul com 64%, Nordeste com 31% e Norte com 79%. Para maio, as previsões também indicam afluências abaixo da média, com destaque negativo para o Sul, que pode atingir apenas 23% da MLT, segundo o cenário menos favorável. No agregado nacional, o SIN pode registrar 66% da MLT, o menor valor em 95 anos para o mês de maio.
Armazenamento em queda e resposta do sistema
Os dados de armazenamento de energia em abril também reforçam a preocupação. Os percentuais verificados foram de 70% (Sudeste/Centro-Oeste), 40% (Sul), 77% (Nordeste) e 97% (Norte), resultando em média nacional de 71%. A projeção para o final de maio, no cenário mais pessimista, aponta uma redução para 69% da energia armazenada máxima (EARmáx) no SIN, com destaque novamente para o Sul, que pode atingir apenas 31%.
Diante desses números, a antecipação das térmicas se justifica como uma medida estratégica para evitar riscos ao suprimento de energia elétrica em momentos de maior consumo, especialmente durante os meses de seca e no pico da demanda diária.
Expansão da capacidade em 2025
Paralelamente, o CMSE apresentou dados sobre a expansão do sistema de geração e transmissão. Em abril, foram adicionados 89 MW de capacidade instalada de geração centralizada, 525 km de linhas de transmissão e 125 MVA em transformadores. Com isso, o acumulado de 2025 até abril alcança 2.049 MW de nova capacidade instalada, 676 km de linhas e 1.185 MVA em transformação.
O comitê reforçou seu compromisso de monitoramento contínuo das condições de abastecimento e da evolução do mercado de energia elétrica, mantendo a adoção de medidas técnicas para garantir a confiabilidade do sistema.
As definições finais da reunião serão consolidadas em ata oficial, com publicação conforme o regimento interno do colegiado.