Projeto pioneiro conecta planta de resíduos urbanos à rede de gás canalizado, marca entrada da distribuidora estadual no mercado de gás renovável e projeta evitar 900 mil toneladas de CO₂ até 2030
O Espírito Santo acaba de entrar de forma definitiva no mapa da transição energética brasileira. A ES Gás, distribuidora estadual de gás canalizado, anunciou a assinatura do seu primeiro contrato para injeção de biometano na rede de distribuição, marcando um passo inédito rumo à descarbonização da matriz energética capixaba. O gás renovável será produzido a partir do reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos pela empresa Marca Ambiental, em Cariacica, na região metropolitana de Vitória.
Com investimentos totais da ordem de R$ 75 milhões, sendo R$ 70 milhões aportados pela Marca Ambiental para a implantação da usina e R$ 5 milhões pela ES Gás para adaptação e conexão da infraestrutura, o projeto consolida o estado como um dos pioneiros na incorporação do biometano à rede de gás canalizado. A iniciativa integra o programa ES Mais+Gás, que visa impulsionar o crescimento sustentável do setor por meio da diversificação da matriz energética, com foco em gás natural e gás renovável.
Segundo a ES Gás, a planta da Marca Ambiental ainda está em fase inicial de construção, mas já conta com todo o planejamento para purificação do biometano e sua posterior injeção na rede de distribuição, em conformidade com os parâmetros técnicos de qualidade exigidos. O projeto não só inaugura uma nova rota tecnológica para a energia no estado, como também reforça os compromissos da concessionária com as práticas ESG e a descarbonização.
Gás renovável como vetor de sustentabilidade
O diretor-presidente da ES Gás, Fabio Bertollo, destacou que a iniciativa é mais do que um avanço operacional: trata-se de um compromisso estratégico com o futuro. “Esse contrato marca o compromisso da ES Gás em impulsionar a diversificação energética no Espírito Santo, contribuindo para uma matriz energética estável e cada vez mais limpa. A distribuição do biometano reforça o uso de fontes renováveis e de baixa emissão de carbono”, afirmou o executivo.
Além da mitigação de impactos ambientais, a distribuição de biometano representa ganhos sociais e econômicos. Ao transformar resíduos sólidos urbanos em combustível renovável, a usina da Marca Ambiental contribuirá diretamente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, principalmente em frotas que utilizam GNV (Gás Natural Veicular). O gás renovável também amplia a atratividade econômica do estado para empresas comprometidas com soluções energéticas sustentáveis e pode abrir caminho para novas expansões da rede canalizada, beneficiando regiões ainda não atendidas.
Meta de 300 mil m³/dia até 2034
A expectativa da ES Gás é de que, até 2034, o Espírito Santo atinja uma produção de aproximadamente 300 mil m³/dia de biometano, volume suficiente para suprir parte significativa da demanda urbana e industrial, com uma fonte energética renovável e de baixo impacto ambiental.
Esse movimento local converge com diretrizes nacionais. Recentemente, o Ministério de Minas e Energia (MME) lançou a minuta do decreto que cria o Programa Nacional de Incentivo ao Biometano, que estabelece metas de descarbonização para o setor de gás natural. A regulamentação ainda está em consulta pública, mas já sinaliza a direção do setor: mais biometano, mais sustentabilidade, mais inovação.
R$ 1 bilhão em investimentos até 2030
O contrato com a Marca Ambiental é apenas o primeiro de uma série de passos que a ES Gás pretende dar. A distribuidora já protocolou junto à Agência de Regulação dos Serviços Públicos do Espírito Santo (ARSP) seu plano de investimentos para os próximos cinco anos, que prevê R$ 1 bilhão em aportes até 2030. Um dos principais objetivos é conectar quatro usinas de biometano à rede canalizada.
Com a substituição parcial do gás fóssil pelo biometano, a distribuidora estima evitar a emissão de 900 mil toneladas de CO₂ até o final da década, o equivalente ao plantio de mais de 6 milhões de árvores. O movimento está alinhado à Política Estadual de Biometano e ao Plano Estadual de Neutralização de Emissões, consolidando o Espírito Santo como referência em inovação energética.
Um modelo para o Brasil
O projeto de Cariacica servirá como piloto para outros pontos de injeção no estado e poderá ser replicado em outras regiões do país, especialmente em áreas com desafios logísticos para expansão da rede tradicional. Além disso, o ES Mais+Gás já entregou resultados concretos, como a redução da alíquota de ICMS sobre o GNV de 17% para 12% e o crescimento da comercialização no mercado livre, que atingiu 82% do volume de gás distribuído em janeiro de 2025.
A injeção de biometano marca não apenas o início de uma nova fase para a ES Gás, mas também um avanço estrutural na jornada do Espírito Santo rumo à soberania energética sustentável, à descarbonização real e à inovação industrial em larga escala.