Apesar da leve queda na energia elétrica no IPCA nacional, reajustes tarifários regionais acentuam desigualdade no custo da energia para os consumidores brasileiros
A inflação oficial do Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), avançou 0,43% no mês de abril, uma desaceleração em relação à taxa de 0,56% registrada em março. Os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que, embora o ritmo da inflação tenha diminuído, o cenário ainda preocupa: no acumulado dos últimos 12 meses, o índice chegou a 5,53%, ultrapassando o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,5%.
Entre os grupos que compõem o IPCA, o setor de Habitação teve uma desaceleração de 0,24% em março para 0,14% em abril. Dentro desse grupo, a energia elétrica residencial registrou uma variação negativa de 0,08%, contribuindo para conter a inflação. No entanto, o alívio médio observado nos números nacionais não se refletiu de maneira uniforme entre as diferentes regiões do país.
Desigualdade nas tarifas de energia evidencia fragilidade no sistema regulatório
Embora o indicador médio da energia elétrica tenha apontado leve retração, a análise regional dos reajustes tarifários mostra um cenário marcado por disparidades significativas. Algumas capitais enfrentaram aumentos expressivos, enquanto outras registraram queda nos preços, refletindo a política de reajustes das concessionárias locais.
Entre as capitais que registraram aumento nas tarifas de energia elétrica, Aracaju apresentou elevação de 1,68% no item, influenciada por um reajuste de 6,99% aplicado a partir de 22 de abril. Em Campo Grande, a variação positiva foi de 0,62%, reflexo do reajuste de 0,91% nas tarifas locais. Já em Salvador, mesmo com a implementação de um aumento de 2,07%, o impacto sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi praticamente neutro, resultando em uma leve variação negativa de 0,07%.
Por outro lado, entre as capitais que apresentaram queda nos preços da energia elétrica, Fortaleza registrou recuo de 1,68%, contribuindo para uma retração de 0,19% no IPCA da região. Recife destacou-se como a capital com a maior redução entre os locais analisados, com queda de 1,70%, mesmo diante de um reajuste de 3,33% aplicado no final do mês.
Essa diversidade de cenários revela a instabilidade regulatória no setor elétrico, e demonstra como as diferenças nos calendários e percentuais de reajuste das distribuidoras impactam diretamente o consumidor final. Em vez de uma política uniforme, os brasileiros enfrentam realidades muito distintas de acordo com sua localização.
Bandeira tarifária amarela deve ampliar pressão sobre inflação em maio
O que já parece instável tende a se agravar nos próximos meses. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) anunciou o acionamento da bandeira tarifária amarela para o mês de maio, medida que representa um custo adicional de R$ 1,88 a cada 100 kWh consumidos. A mudança é motivada pelo aumento dos custos de geração de energia, especialmente em períodos de menor incidência de chuvas e uso mais intensivo de fontes térmicas.
A adoção da bandeira tarifária amarela interrompe um ciclo de mais de um ano em que a bandeira verde — que não impõe cobranças extras — vinha sendo aplicada. A nova sinalização deve se refletir nos próximos indicadores do IPCA, contribuindo para uma pressão inflacionária adicional justamente sobre o item que já vinha figurando entre os principais vilões da inflação recente.
Energia elétrica continua entre os principais vetores inflacionários
Nos últimos meses, a energia elétrica, ao lado dos alimentos, tem desempenhado papel relevante na trajetória inflacionária do país. Mesmo em momentos de estabilidade média ou leve retração, as oscilações regionais e a imprevisibilidade tarifária mantêm o consumidor em constante estado de alerta.
Além dos reajustes, as bandeiras tarifárias e as variações nos encargos e tributos regionais complicam ainda mais o entendimento da fatura por parte dos consumidores. Essa complexidade reforça a necessidade de transparência, regulação mais eficiente e políticas públicas que garantam maior previsibilidade no custo da energia.