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Governo prepara medida provisória para isentar conta de luz de até 60 milhões de brasileiros de baixa renda

Governo prepara medida provisória para isentar conta de luz de até 60 milhões de brasileiros de baixa renda

Proposta do Ministério de Minas e Energia prevê gratuidade no consumo de até 80 kWh por mês para famílias do CadÚnico e inclui medidas para ampliar tarifa social e abrir o mercado de energia a partir de 2026

O governo federal prepara o envio ao Congresso Nacional, nas próximas semanas, de uma medida provisória (MP) que propõe a isenção total da conta de luz para famílias em situação de vulnerabilidade social que consumam até 80 quilowatt-hora (kWh) por mês. A iniciativa poderá beneficiar até 60 milhões de brasileiros e faz parte da reforma do setor elétrico articulada pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

A proposta foi debatida na última sexta-feira (2) em reunião entre o ministro Alexandre Silveira e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo fontes do governo, o presidente demonstrou entusiasmo com a medida, especialmente com a possibilidade de ampliar a tarifa social de energia elétrica para mais famílias do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).

Quem será beneficiado

A nova regra garantirá gratuidade total na fatura de energia elétrica para famílias que se enquadrem em ao menos um dos seguintes critérios:

  • Inscrição no CadÚnico com renda familiar per capita de até meio salário mínimo;
  • Pessoas com deficiência ou idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC);
  • Famílias indígenas ou quilombolas também cadastradas no CadÚnico.

O benefício será limitado ao consumo mensal de até 80 kWh. Caso o consumo ultrapasse esse limite, o valor excedente será cobrado conforme a tarifa regular da distribuidora de energia. O modelo se assemelha ao já praticado para famílias indígenas e quilombolas, que hoje recebem 100% de desconto para consumo de até 50 kWh.

Impacto financeiro e estruturação

De acordo com estimativas do MME, o custo anual da medida gira em torno de R$ 3,6 bilhões. O governo, no entanto, descarta o uso direto de recursos do Tesouro Nacional. A ideia é utilizar fontes do próprio setor elétrico, como fundos setoriais, para viabilizar a proposta sem impacto fiscal imediato.

Além da gratuidade para famílias mais vulneráveis, a proposta inclui a isenção da cobrança da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para consumidores com renda de meio até um salário mínimo per capita, também inscritos no CadÚnico. A CDE representa uma das principais rubricas da conta de luz e financia subsídios, políticas públicas e universalização do serviço.

Reforma e abertura do mercado livre

A isenção da conta de luz está inserida em um pacote mais amplo de medidas que compõem a proposta de reforma do setor elétrico, elaborada pelo MME e encaminhada à Casa Civil no dia 16 de abril. Inicialmente pensada como um projeto de lei, a proposta tende a ser transformada em medida provisória — o que garantiria vigência imediata, ainda que com posterior análise pelo Congresso Nacional.

Um dos principais eixos da reforma é a abertura escalonada do mercado livre de energia elétrica para consumidores do grupo B, como residências e pequenos comércios. A expectativa é que esse processo tenha início em 2026 e se consolide em 2027, permitindo que mais brasileiros possam escolher sua fornecedora de energia e a fonte contratada, como solar ou eólica.

Outros pontos da reforma tratam da equalização de encargos entre consumidores livres e cativos, da regulação da autoprodução e da ampliação das políticas de eficiência energética.

Reações do setor

Apesar de ainda não estar oficialmente publicada, a proposta já gera movimentação no setor elétrico. Associações e agentes de mercado avaliam que a medida, embora positiva no aspecto social, precisa ser debatida com maior profundidade, especialmente em relação ao seu impacto sobre os custos sistêmicos e à sustentabilidade econômica das distribuidoras.

Entidades setoriais também apontam que a tramitação via projeto de lei permitiria maior transparência, participação do setor e ajustes técnicos, enquanto a adoção da MP restringe o tempo de discussão legislativa.

O Ministério de Minas e Energia, por sua vez, afirma que a proposta está aberta a aprimoramentos e que novas reuniões com representantes do setor e parlamentares devem ocorrer antes da publicação da medida.

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