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Armazenamento de energia nos EUA atinge novo patamar, mas cenário político ameaça ritmo de crescimento

Armazenamento de energia nos EUA atinge novo patamar, mas cenário político ameaça ritmo de crescimento

Instalações de baterias ultrapassam 12 GW em 2024 e consolidam crescimento do setor, mas mudanças fiscais e influência de políticas pró-gás podem frear expansão nos próximos anos, aponta relatório da Wood Mackenzie e ACP

O mercado de armazenamento de energia nos Estados Unidos alcançou um novo patamar em 2024, com a instalação de 12 GW em sistemas de baterias — um marco que representa um aumento de 34% em relação ao ano anterior. O desempenho, embora impressionante, vem acompanhado de sinais de alerta. Segundo o relatório Energy Storage Monitor, elaborado pela consultoria Wood Mackenzie em parceria com a American Clean Power Association (ACP), o futuro da expansão energética norte-americana pode ser freado por incertezas políticas e regulatórias, especialmente em um contexto de possível retorno de políticas menos favoráveis à energia limpa.

O estudo mostra que, apesar de uma queda de 20% nas instalações no último trimestre de 2024, os três principais segmentos monitorados apresentaram crescimento de dois dígitos no acumulado do ano. O setor de armazenamento em escala de utilidade pública cresceu 32%, somando 33,7 GWh de capacidade instalada. Já o mercado residencial avançou 64%, superando a marca de 3 GWh, enquanto os sistemas comunitários, comerciais e industriais (CCI) cresceram 11%, atingindo 370 MWh.

Diversificação geográfica marca nova fase do setor

Historicamente concentrado na Califórnia e no Texas, o mercado de armazenamento americano começou a se diversificar. Esses dois estados responderam por 61% das implantações no quarto trimestre, um recuo em relação aos 91% observados em períodos anteriores. Isso ocorreu devido à entrada de novos atores como Novo México (400 MW), Oregon (292 MW), Arizona (185 MW) e Carolina do Norte (115 MW), que passaram a integrar o mapa de protagonismo da transição energética nos EUA.

Esse movimento é considerado estratégico para ampliar a resiliência do sistema elétrico e impulsionar a descentralização da geração e do armazenamento.

Residencial em alta, apesar de desafios regulatórios

Um dos destaques do relatório foi o avanço do segmento residencial, impulsionado por uma taxa de anexação de 34% — ou seja, mais de um terço das instalações solares passaram a incluir sistemas de baterias.

Entretanto, esse crescimento ocorreu mesmo diante de obstáculos regulatórios na Califórnia, onde o modelo tarifário NEM 3.0, adotado no fim de 2022, reduziu os incentivos à exportação de energia para a rede. Apesar disso, projetos protocolados até abril de 2023 ainda podem operar sob a tarifa anterior (NEM 2.0), o que criou um estoque significativo de pedidos pendentes, cuja liberação mais lenta do que o esperado impactou o desempenho regional.

Segundo a Wood Mackenzie, a taxa de anexação deve se estabilizar entre 2025 e 2026. A partir de então, poderá cair gradualmente, à medida que estados com políticas menos favoráveis ao armazenamento residencial, como a Flórida, ganhem participação nas novas instalações solares.

Futuro do armazenamento está nas mãos da política

O relatório destaca que o ritmo de crescimento do armazenamento de energia nos EUA dependerá de decisões políticas cruciais. A manutenção dos créditos fiscais federais para energias limpas, a política tarifária sobre importações — principalmente de baterias e equipamentos vindos da China — e a postura do próximo governo em relação à matriz energética poderão alterar substancialmente os rumos do setor.

A Wood Mackenzie delineia dois cenários distintos para os próximos cinco anos:

  • Cenário otimista: sem alterações nos créditos fiscais e com rápida integração entre renováveis e armazenamento, o mercado poderá atingir 10 GW adicionais de capacidade instalada até 2029.
  • Cenário pessimista: com eliminação gradual dos incentivos a partir de 2028, aumento de tarifas de importação e políticas pró-gás natural, as instalações podem sofrer uma retração de 22% no mesmo período.

Esses fatores também afetam os investimentos no segmento CCI, que tem alto custo e depende de incentivos regionais. Mudanças em políticas estaduais podem beneficiar o setor na década de 2030, mas é improvável que surtam efeito relevante nos próximos cinco anos.

Projeções para 2025

Apesar dos desafios, o estudo projeta um crescimento de 11% na instalação de sistemas em escala de utilidade pública em 2025, em relação às estimativas anteriores. O impulso vem, em parte, do adiamento de projetos de 2024 para o ano atual, além do aumento do interesse por soluções de armazenamento em estados até então periféricos nesse mercado.

A capacidade média anual adicionada de armazenamento deverá oscilar entre 13 GW e 22 GW entre 2025 e 2029, de acordo com o cenário regulatório que prevalecer.

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