Mesmo com mais de 100 mil novos sistemas instalados em 2025, crescimento da potência instalada encolhe 24% em relação ao ano anterior
O setor de energia solar no Brasil iniciou 2025 com números que, à primeira vista, demonstram avanço. Entre janeiro e fevereiro, foram adicionados 109 mil novos sistemas fotovoltaicos ao parque de geração distribuída do país, marcando um crescimento de 3% no total de instalações e atingindo a marca de 3,3 milhões de sistemas em operação. No entanto, o ritmo da expansão esconde um sinal de alerta: a capacidade instalada cresceu apenas 1,2 MWp no período, uma queda expressiva de 24% em comparação ao mesmo intervalo de 2024.
Esse cenário, conforme apontam dados da Solfácil — maior ecossistema de soluções solares da América Latina — com base em levantamentos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), tem como principal vilão o aumento dos preços dos equipamentos solares. Com custos mais elevados, muitos integradores e consumidores têm enfrentado dificuldades para viabilizar projetos maiores e mais robustos, resultando em uma mudança significativa no perfil das instalações.
Os sistemas de pequeno porte, com capacidade entre 3 e 6 kWp, ganharam ainda mais espaço no mercado. Se em 2019 eles representavam 35% das novas instalações, agora já ocupam 48% do total de projetos conectados. Esse movimento reflete uma tendência de “minisolarização” das residências brasileiras, onde o segmento doméstico continua liderando a adesão à tecnologia — responsável por 84% dos novos projetos.
Fabio Carrara, CEO e fundador da Solfácil, explica que, apesar do aumento nos preços dos equipamentos, a energia solar ainda se mantém como uma alternativa vantajosa frente às tarifas tradicionais de eletricidade.
“Mesmo com a pressão de custos, o payback para o consumidor final segue atrativo, podendo ser inferior a três anos. Nenhum outro mercado no mundo oferece um retorno tão rápido para quem investe em energia solar como o brasileiro.”
Brasil mais solar: onde a adesão cresce mais?
Atualmente, mais de 5% das unidades consumidoras do Brasil contam com energia solar, mas a adesão ao modelo de geração própria não ocorre de maneira uniforme pelo território nacional. A região Centro-Oeste desponta como a mais solarizada do país, com uma taxa de penetração de 8,5%. Na outra ponta, o Nordeste tem o menor índice, com 4,4% de participação, mesmo sendo uma das regiões com maior potencial de irradiação solar.
Entre os estados, São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais lideram a corrida solar, seguidos por Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Pará, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pernambuco. Nas capitais, Campo Grande (MS), Cuiabá (MT) e Belém (PA) se destacam como polos emergentes da energia solar urbana, consolidando um movimento crescente de descentralização da geração de eletricidade.
O futuro da energia solar brasileira diante dos desafios
Apesar dos números positivos em novas instalações, o ritmo menor da expansão de capacidade instalada sinaliza um momento de transição no mercado solar. A alta nos preços dos equipamentos — impactada tanto por fatores globais, como a variação cambial e o custo de importação de componentes, quanto por desafios internos de crédito e financiamento — está forçando o setor a se reinventar.
A tendência de sistemas menores e mais distribuídos pode consolidar um novo modelo para o mercado residencial, enquanto integradores e fabricantes buscam alternativas para destravar projetos de maior escala.
Ainda assim, o potencial do Brasil para liderar a produção descentralizada de energia renovável continua evidente. A combinação de alta irradiação solar, custos de eletricidade tradicionais em ascensão e um mercado consumidor cada vez mais consciente mantém a energia solar como peça-chave da transição energética nacional.
O desafio agora é garantir que a desaceleração da capacidade instalada não se torne uma tendência prolongada — e que o Brasil continue aproveitando seu imenso potencial para gerar energia limpa, barata e acessível.