Projeto de Lei propõe modelo inovador para descentralizar a produção e o consumo de eletricidade no país
O Brasil pode estar prestes a dar um passo decisivo na democratização da geração de energia renovável. O Projeto de Lei 3798/24, em tramitação no Congresso Nacional, propõe a regulamentação das comunidades energéticas, um conceito inovador que permite que grupos organizados de pessoas, empresas e cooperativas se associem para produzir, compartilhar e consumir eletricidade proveniente de fontes limpas, como solar e eólica.
A proposta estabelece regras para que essas comunidades tenham acesso à rede de distribuição elétrica, garantindo maior autonomia energética e permitindo a comercialização do excedente por meio de tarifas diferenciadas. O modelo, já adotado com sucesso em diversos países, pode impulsionar a transição energética brasileira e proporcionar benefícios econômicos e ambientais.
Para se tornar lei, o projeto precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. A expectativa é que sua regulamentação fortaleça o setor elétrico, ampliando a participação da sociedade na geração de energia limpa e incentivando práticas mais sustentáveis no consumo energético.
Como Funcionam as Comunidades Energéticas?
O projeto de lei define comunidade energética como uma associação formalizada entre consumidores de energia – sejam indivíduos, empresas ou cooperativas – para gerar e compartilhar eletricidade a partir de fontes renováveis. Essas comunidades poderão atuar tanto em áreas urbanas quanto rurais, promovendo a descentralização da geração e o acesso democrático à energia sustentável.
A criação das comunidades exigirá um ato constitutivo registrado em cartório, garantindo transparência e organização. Esse documento deverá detalhar a composição da comunidade, seu modelo de governança, as fontes de energia renovável utilizadas, a área geográfica de atuação, o modelo de compartilhamento da eletricidade gerada, além dos benefícios econômicos e sociais para os membros. Também será necessário especificar os compromissos com sustentabilidade ambiental e inclusão social.
Além disso, o texto prevê que essas comunidades terão direito de utilizar a rede elétrica existente para distribuir sua energia, firmando contratos específicos com concessionárias. Também poderão vender o excedente de eletricidade a preços incentivados, seguindo modelos como o “feed-in tariff”, que remunera a injeção de energia renovável na rede.
Benefícios para a Sociedade e o Setor Elétrico
De acordo com o deputado Jadyel Alencar (Republicanos-PI), autor da proposta, a regulamentação das comunidades energéticas representa um avanço significativo para a modernização do setor elétrico.
“O projeto visa não apenas diversificar a matriz energética nacional, mas também incentivar a participação cidadã, fomentar o desenvolvimento local e garantir a proteção ambiental”, destaca o parlamentar.
A iniciativa pode ter um impacto positivo direto na conta de luz dos consumidores, que passarão a gerar parte ou até mesmo toda a energia que consomem, reduzindo custos com eletricidade. Além disso, a descentralização da geração pode aliviar a pressão sobre o sistema elétrico nacional, minimizando perdas na transmissão e aumentando a segurança energética.
Outro aspecto relevante é a inclusão social: o projeto prevê a criação de linhas de crédito especiais, com juros subsidiados e prazos estendidos, para estimular a formação de comunidades energéticas em regiões de baixa renda e áreas remotas, onde o acesso à energia ainda é um desafio.
A experiência internacional demonstra que esse modelo é altamente eficaz. Países como Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos já adotam comunidades energéticas como parte de sua estratégia de transição energética. No Brasil, essa regulamentação pode representar um marco para ampliar o uso de energia limpa e fortalecer a economia local.
Desafios e Próximos Passos
Apesar das vantagens, a implementação das comunidades energéticas no Brasil ainda enfrenta desafios regulatórios e técnicos. Será necessário definir com clareza como essas comunidades se integrarão ao sistema elétrico nacional, garantindo equilíbrio entre geração e demanda. Além disso, a regulamentação das tarifas de compra e venda da energia excedente será crucial para viabilizar economicamente os projetos.
O projeto será analisado pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Minas e Energia; Finanças e Tributação; e Constituição e Justiça e de Cidadania. Caso aprovado, poderá transformar significativamente a matriz energética brasileira, tornando-a mais sustentável, acessível e descentralizada.
Se bem implementadas, as comunidades energéticas têm o potencial de tornar o Brasil uma referência global em geração distribuída de energia renovável, alinhando crescimento econômico, desenvolvimento social e preservação ambiental.