Por Raul Lycurgo, presidente da Eletronuclear
Quando se fala em Angra 3, é fundamental lembrar que o projeto não representa apenas mais uma unidade de geração de energia. Trata-se de um empreendimento de relevância nacional, com potencial para transformar investimentos em desenvolvimento social, gerar empregos em larga escala e alavancar a economia brasileira.
Na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), estará em pauta a decisão sobre a conclusão ou não da usina, um debate que exige análise não apenas sob a ótica energética, mas também socioeconômica.
Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2024 apontam que, para cada R$1 bilhão investido em energia nuclear, são gerados mais de R$2 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) nacional e criados mais de 22 mil empregos diretos e indiretos. Com um investimento total estimado em R$23 bilhões para finalizar Angra 3, as implicações positivas para a economia são significativas, incluindo o fortalecimento das cadeias produtivas e tecnológicas nacionais.
Em contrapartida, o custo para abandonar as obras pode passar de R$21 bilhões. O dado é fruto do estudo independente, imparcial e aprofundado produzido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre a terceira usina nuclear brasileira. O montante seria praticamente o mesmo de se concluir o empreendimento.
No auge da obra, poderão ser gerados cerca de 7 mil empregos diretos e dezenas de milhares de postos de maneira indireta. Este movimento impacta não apenas a região da Costa Verde fluminense, onde está localizada a central nuclear, mas também o conjunto da economia brasileira, ao mobilizar diferentes setores.
A cadeia produtiva do setor nuclear no Brasil também gera empregos altamente qualificados, espalhados por todo o território nacional, e não apenas concentrados em Angra dos Reis. Projetos de pesquisa e desenvolvimento, fabricação de componentes tecnológicos e outros serviços especializados dependem diretamente do sucesso da usina. Além disso, o setor movimenta fornecedores de mão de obra e de serviços, abrangendo desde empregos altamente especializados até funções gerais indispensáveis para a execução das atividades.
Para comprovar isto, a FGV calculou quanto cada real investido no desenvolvimento de uma nova central é capaz de gerar em termos de renda e empregos nos demais setores da economia.
Nas atividades de construção, por exemplo, tem-se um vetor de investimento em Geração de Energia Nuclear de 13,40%. Outras áreas também foram citadas no estudo da FGV, como o comércio por atacado e varejo (9,43%) e a fabricação de máquinas e equipamentos mecânicos (6,02%).
Concluir a terceira usina nuclear brasileira é, portanto, uma escolha que traz racionalidade econômica. Abandonar o projeto implicaria em custos elevados para a União, além de inviabilizar a recuperação dos quase R$12 bilhões já investidos. Esses valores teriam que ser pagos sem a contrapartida de energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN) ou qualquer outro retorno à sociedade. Por outro lado, a conclusão do empreendimento transforma o que foi aplicado em um ativo produtivo, que se autofinancia por meio da energia gerada.
A futura usina também oferece uma tarifa projetada competitiva, atualmente estimada em R$653,31 por megawatt-hora (MWh), abaixo do custo médio de diversas térmicas no país. A previsão é de que sua energia, firme e limpa, forneça segurança ao sistema elétrico, reduzindo a dependência de usinas térmicas a combustível fóssil e seus altos custos variáveis.
Angra 3 não é apenas uma solução para atender à demanda crescente por energia, mas também uma ferramenta essencial na diversificação da matriz elétrica brasileira. Com emissões de gases de efeito estufa praticamente nulas, a energia nuclear é um aliado fundamental na transição para uma economia de baixo carbono.
Enquanto uma usina a carvão emite até 820 g/kWh de CO₂, uma usina nuclear gera apenas 12 g/kWh. Ao longo de 25 anos, a substituição de termelétricas a carvão por energia nuclear evitaria a emissão de gases que exigiriam o plantio de 586 milhões de árvores para compensação.
Concluir o empreendimento será um marco para o desenvolvimento do Brasil, não apenas no setor energético, mas também como catalisador de transformações econômicas e sociais. Esta é uma decisão que gera empregos, impulsiona a economia e reforça o compromisso do país com soluções sustentáveis e tecnológicas.
Na reunião do CNPE, espera-se que esses benefícios sejam devidamente considerados, reafirmando o papel estratégico de Angra 3 para o futuro do Brasil.