Estudo da Deloitte revela que energia solar já superou hidrelétrica e nuclear em capacidade instalada, mas demanda crescente exige mais investimentos e inovação
A transição energética global está ganhando força, mas enfrenta desafios para acompanhar a crescente demanda por fontes limpas. De acordo com o relatório Renewable Energy Industry Outlook 2025, da Deloitte, o setor de energias renováveis viu um avanço expressivo na capacidade instalada em 2024, com a energia solar ultrapassando as hidrelétricas e as usinas nucleares no ranking das principais fontes de geração elétrica. No entanto, especialistas alertam que a infraestrutura e as políticas públicas precisam evoluir para garantir a sustentabilidade desse crescimento.
O estudo aponta que, no último ano, 88% da nova capacidade global de geração de energia veio da fonte solar, totalizando 18,6 gigawatts (GW). Paralelamente, a energia eólica, embora tenha registrado uma leve retração de 14% na expansão, atingiu um marco histórico ao superar a geração de energia a carvão por dois meses consecutivos – um indicativo da consolidação das fontes limpas na matriz energética mundial.
Outro destaque do relatório é o crescimento no armazenamento de energia em baterias, segunda maior adição de capacidade em 2024, com um aumento de 64%, atingindo 7,4 GW globalmente. Essa tecnologia vem se tornando essencial para equilibrar a intermitência das fontes renováveis e garantir maior estabilidade ao sistema elétrico.
Apesar desses avanços, a capacidade instalada ainda não é suficiente para suprir a crescente demanda global por energia limpa, especialmente diante do aumento do consumo impulsionado por eletrificação de transportes, digitalização da indústria e aquecimento econômico em diversas regiões. O estudo ressalta que, para acelerar a transição energética, serão fundamentais investimentos em inteligência artificial (IA), aprimoramento da gestão de carbono e maior diálogo entre governos e o setor privado.
Brasil em posição estratégica no setor renovável
No Brasil, a energia renovável já representa a maior parte da matriz elétrica, com destaque para a hidrelétrica, solar e eólica. No entanto, o país ainda tem grande potencial inexplorado, especialmente na geração eólica offshore. Segundo um levantamento da ABEEólica em parceria com a Deloitte, seis em cada dez executivos do setor consideram que o Brasil tem um enorme campo de crescimento devido à sua abundância de recursos naturais e condições climáticas favoráveis.
Os investimentos no setor já estão refletindo no mercado nacional. Com incentivos públicos e privados, o Brasil viu uma expansão acelerada da energia solar nos últimos anos, e a expectativa é que esse crescimento continue em 2025, impulsionado por políticas de incentivo, como a mini e microgeração distribuída e leilões de energia para fontes renováveis.
Entretanto, o país também enfrenta desafios. Para que essa expansão seja sustentável e acompanhe a demanda do mercado, será necessário um grande esforço em infraestrutura, armazenamento de energia e regulação de mercado. O relatório da Deloitte aponta que, sem investimentos estruturais adequados, o crescimento pode ser limitado por gargalos como dificuldades no licenciamento ambiental, restrições na transmissão e custos elevados para implementação de novas tecnologias.
O papel da inovação na transformação energética
Além da ampliação da infraestrutura, o setor de energia renovável também está passando por uma revolução tecnológica. O uso da inteligência artificial (IA) vem sendo um dos principais impulsionadores da eficiência energética, permitindo maior precisão na previsão de demanda, otimização de operações e até automação de processos industriais.
A gestão de carbono também está ganhando relevância, principalmente com o avanço das regulamentações sobre emissões e o crescente interesse de empresas em reduzir sua pegada ambiental. Soluções como captura e armazenamento de carbono, monitoramento via sensores inteligentes e comercialização de créditos de carbono tendem a se tornar cada vez mais comuns no setor elétrico.
“O setor de energia renovável se posiciona globalmente como uma força central na transição para uma matriz energética mais sustentável e diversificada. A combinação de inovações tecnológicas, políticas públicas e colaborações estratégicas promete acelerar o crescimento e superar os desafios da crescente demanda global por energia limpa. No Brasil, temos um cenário promissor para 2025, mas ainda precisamos enfrentar desafios estruturais para garantir a sustentabilidade desse crescimento”, avalia Guilherme Lockmann, sócio-líder de sustentabilidade e para o segmento de Power, Utilities & Renewables da Deloitte.
A corrida pela energia limpa está longe de terminar, mas os avanços registrados em 2024 demonstram que o setor renovável não apenas se consolidou como essencial para o futuro energético global, mas também que as próximas etapas exigirão um planejamento estratégico para que a oferta consiga acompanhar a demanda crescente.