Déficits de precipitação no final de 2024 ameaçam segurança hídrica e geram preocupações para abastecimento e geração de energia no Norte do Brasil
O Norte do Brasil, uma das regiões de maior biodiversidade e com alguns dos maiores mananciais do país, enfrenta uma das mais severas estiagens dos últimos anos. Em cidades como Manaus (AM) e Belém (PA), a previsão para os últimos meses de 2024 é alarmante, com precipitações estimadas em apenas 50% do esperado para o período. Esse déficit pluviométrico, observado desde setembro, compromete a segurança hídrica e a capacidade de geração de energia na região, que depende fortemente de seus reservatórios.
Em setembro, o regime de chuvas nas principais regiões da bacia amazônica foi de até 100 milímetros (mm) abaixo da média histórica, de acordo com dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). A média histórica varia de 100 a 180 mm na porção oeste da bacia, que engloba Manaus, e de 40 a 100 mm na porção leste, incluindo Belém. Esse cenário representa uma redução de 60% nos índices de precipitação em relação aos anos anteriores, e as previsões para outubro e novembro não indicam melhora significativa.
A análise recente da Fractal Engenharia e Sistemas, empresa especialista em hidrologia e meteorologia, confirma essa previsão preocupante. Segundo Cleber Gama, Head de Hidrologia da Fractal, as projeções climáticas para os meses de outubro e novembro, com base em dados do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF), indicam volumes de chuva 50% menores que a média esperada para Manaus e Belém. “Esse padrão no regime de chuvas no centro-norte do Brasil aparece na maioria das rodadas dos modelos de previsão climática”, explica Gama.
A média de precipitação esperada para outubro e novembro nessas cidades gira em torno de 140 mm, porém, com as atuais previsões, espera-se uma redução de cerca de 70 mm nesse valor. Com o déficit hídrico se intensificando no final de 2024, o sistema de reservatórios e as condições de abastecimento na região entram em estado de alerta.
Desafios para a Segurança Hídrica e o Setor Energético
A bacia amazônica não apenas sustenta a biodiversidade e as populações locais, mas também é vital para o sistema hidrelétrico brasileiro. A escassez de chuvas reduz o nível dos reservatórios, comprometendo a geração de energia e exigindo ações de contingência por parte do setor elétrico. Com a chegada do período úmido — geralmente a partir de dezembro — há uma expectativa de normalização das chuvas, mas, conforme as previsões da Fractal, o volume de precipitação para dezembro ainda ficará abaixo da média dos últimos 30 anos.
A Fractal Engenharia, fundada em 2010, tem sido pioneira em sistemas de previsão de eventos hidroclimáticos, promovendo uma abordagem de prevenção em hidrologia. Com clientes como Defesa Civil de Santa Catarina, Norte Energia e Vale, a empresa tem um histórico de suporte em ações preventivas de grande impacto. Em Santa Catarina, por exemplo, o trabalho da Fractal foi determinante na mitigação de desastres, promovendo a evacuação antecipada de famílias em áreas de risco no Vale do Itajaí desde 2018.
No entanto, o cenário atual no Norte do Brasil requer ações adicionais. Embora as chuvas no início de 2025 possam melhorar a situação, a equipe da Fractal alerta que as condições esperadas para janeiro e fevereiro ainda estarão aquém da média histórica. “A chance de precipitação ultrapassar os 250 mm em janeiro é de apenas 20%, e em fevereiro, chega a 30%”, ressalta Gama. “Essas porcentagens podem não parecer tão baixas, mas, quando comparadas à média histórica, representam um déficit significativo.”
Período Úmido Não Deve Compensar a Estiagem Atual
As previsões para o início de 2025 indicam que, mesmo com o início do período chuvoso, a recuperação total do déficit hídrico será difícil. O acúmulo de chuvas projetado para janeiro e fevereiro não será suficiente para repor os níveis dos reservatórios e normalizar a disponibilidade de água nas regiões mais afetadas. Este quadro preocupa principalmente o setor de energia, que depende das condições de chuva e do volume dos reservatórios para garantir a geração elétrica de forma sustentável.
Diante das adversidades climáticas, as agências governamentais e as empresas de energia já começam a implementar medidas para mitigar os impactos da estiagem. A redução no nível dos reservatórios pode pressionar a geração de energia termelétrica, uma alternativa mais cara e menos sustentável em comparação às hidrelétricas, e elevar os custos de energia para o consumidor final.
Caminhos para a Adaptação e Mitigação
O panorama de seca no Norte do Brasil reflete uma mudança climática mais ampla, e os especialistas alertam para a necessidade de políticas públicas e investimentos em infraestrutura resiliente. Projetos de integração de energia solar e eólica podem ser alternativas para diversificar a matriz energética e reduzir a dependência de hidrelétricas, particularmente em períodos de seca prolongada.
Além disso, o monitoramento contínuo e o uso de tecnologia avançada na previsão de eventos hidroclimáticos são indispensáveis para antecipar crises e adotar estratégias de adaptação. Empresas como a Fractal, que utilizam dados precisos e sistemas de previsão sofisticados, oferecem um suporte fundamental para enfrentar as mudanças no regime de chuvas e suas consequências.
A estiagem que se estende pelo final de 2024 em Manaus e Belém exige medidas de mitigação imediatas, mas também um planejamento de longo prazo. Ao aproximar a meteorologia da hidrologia, empresas de tecnologia e governos podem atuar juntos para minimizar os efeitos da seca e assegurar o acesso à água e à energia para a população, fortalecendo a resiliência das cidades da Amazônia frente às mudanças climáticas.