Estudo da Abraceel aponta que o comércio já adquire 39% da eletricidade no ambiente livre, com potencial para expansão nos próximos anos
O mercado livre de energia tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil, especialmente entre grandes consumidores. Segundo a mais recente edição do Boletim da Energia Livre, publicado pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), a indústria brasileira já compra 92% de toda a eletricidade que utiliza no mercado livre. Esse ambiente permite que consumidores escolham seus fornecedores e negociem diretamente condições mais vantajosas, como preços, prazos e fontes energéticas, proporcionando maior previsibilidade e economia.
O setor de comércio também começa a aproveitar os benefícios do mercado livre de energia, com 39% de toda a sua eletricidade sendo adquirida nesse ambiente de contratação. A migração das empresas comerciais para o mercado livre ainda está em fase de crescimento, em parte devido às restrições legais que limitavam o acesso dessas unidades de menor consumo. No entanto, essa liberação começou a acelerar em janeiro de 2024, possibilitando uma adesão maior por parte de estabelecimentos comerciais.
Vantagens do mercado livre para indústria e comércio
O principal atrativo para a migração de indústrias e comércios ao mercado livre é a redução de custos com a energia elétrica, além da previsibilidade nos reajustes, que traz mais segurança para planejamento financeiro a longo prazo. No mercado regulado, o consumidor está sujeito a aumentos tarifários controlados pelo governo, enquanto no ambiente livre, há maior flexibilidade para negociar prazos e preços de forma direta com fornecedores.
Além da economia financeira, outro fator que tem impulsionado a adesão ao mercado livre é a possibilidade de optar por fontes de energia renováveis. Com a crescente demanda por sustentabilidade, muitas empresas, especialmente indústrias, estão alinhando suas compras de eletricidade com suas metas ambientais, promovendo o uso de fontes limpas como energia eólica e solar. Esse movimento fortalece a estratégia de sustentabilidade corporativa, atraindo consumidores que buscam reduzir sua pegada de carbono.
Potencial de crescimento no mercado comercial
Embora o comércio represente atualmente 39% de sua energia adquirida no mercado livre, há um grande potencial de expansão, segundo a Abraceel. O setor de comércio, que ainda está se adaptando às recentes permissões para migração ao ambiente livre, deve aumentar sua participação à medida que os benefícios da redução de custos e previsibilidade se tornem mais evidentes. A estimativa é que um número crescente de estabelecimentos comerciais possa se beneficiar desse modelo, especialmente à medida que mais pequenas e médias empresas conheçam as vantagens da contratação direta com fornecedores de energia.
Potencial de migração no Grupo A
O Grupo A, que abrange consumidores de média e alta tensão, como grandes indústrias e estabelecimentos comerciais de maior porte, já conta com 202 mil consumidores, sendo que mais de 51 mil deles optaram por migrar para o mercado livre desde que a regulamentação passou a permitir essa escolha. O ambiente livre, nesse segmento, oferece condições significativamente melhores, permitindo economias expressivas nas contas de luz, além de possibilitar a negociação de contratos a longo prazo, com maior previsibilidade nos reajustes.
A tendência de migração desses consumidores do mercado regulado para o mercado livre deve continuar, com a expectativa de que mais empresas passem a perceber os benefícios do modelo de contratação livre, fortalecendo a competitividade do setor produtivo no país.
Potencial de expansão para o Grupo B
O estudo da Abraceel também aponta um grande potencial para os consumidores de baixa tensão, agrupados no chamado Grupo B, que inclui pequenos comércios e indústrias. Atualmente, esses consumidores ainda estão restritos ao mercado regulado, sem a possibilidade de escolher seus fornecedores de energia. No entanto, caso a legislação permita essa migração, a economia gerada poderia ser expressiva. Estima-se que, se os 6,4 milhões de consumidores industriais e comerciais do Grupo B pudessem migrar para o mercado livre, haveria uma economia anual de R$ 17,8 bilhões com despesas de eletricidade.
Essa economia gerada pelo setor produtivo poderia ser reinvestida em melhorias operacionais, contratação de pessoal e modernização de processos, contribuindo para o aumento da produtividade das empresas. Segundo projeções da Abraceel, essa migração poderia resultar na criação de até 381,8 mil novos empregos no Brasil, além de fortalecer a competitividade das empresas no mercado global.
Perspectivas para o futuro
Com o avanço da liberalização do mercado de energia no Brasil, espera-se que tanto indústrias quanto comércios aproveitem ainda mais as oportunidades oferecidas pelo ambiente de contratação livre. Além dos ganhos financeiros, a possibilidade de vincular a compra de eletricidade a fontes renováveis permite que as empresas se posicionem como líderes em sustentabilidade, um diferencial competitivo cada vez mais valorizado.
O crescimento desse modelo também representa um desafio para o setor regulado, que precisará continuar se adaptando às transformações do mercado energético. A abertura gradual para consumidores de menor porte e a crescente demanda por previsibilidade e custos mais baixos continuarão a impulsionar a migração de empresas para o mercado livre, consolidando essa tendência como uma realidade no setor elétrico brasileiro.