Projeto desenvolvido pela UFPA e Norte Energia promete descarbonizar a mobilidade na Amazônia, com potencial de reduzir emissões em 161 toneladas de CO₂ por ano
Um marco importante para a sustentabilidade e mobilidade na Amazônia foi alcançado com o lançamento do Poraquê, o primeiro catamarã elétrico da região, desenvolvido por meio de uma parceria entre a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte. O projeto, que faz parte de um esforço de descarbonização e modernização do transporte fluvial, tem o potencial de revolucionar a forma como as populações ribeirinhas e urbanas da Amazônia se locomovem.
O Poraquê é um catamarã totalmente elétrico movido a energia solar, projetado para operar nos rios da maior bacia hidrográfica do mundo. Seu nome faz alusão ao peixe elétrico nativo da Amazônia, conhecido por sua capacidade de gerar descargas elétricas. A iniciativa faz parte do Sistema Inteligente Multimodal da Amazônia (SIMA), que também inclui dois ônibus elétricos que já circulam no campus da UFPA.
Uma Alternativa Sustentável e Urgente
A relevância do projeto não se limita apenas ao pioneirismo tecnológico, mas ao impacto ambiental que ele pode gerar. Atualmente, as embarcações que operam nos rios da Amazônia utilizam, em sua maioria, motores movidos a diesel, um combustível altamente poluente. A adoção de barcos elétricos representa uma importante alternativa sustentável, especialmente em uma região onde o transporte fluvial é a principal forma de mobilidade para milhares de pessoas. O Poraquê terá um papel fundamental na redução das emissões de CO₂, contribuindo para a preservação do ecossistema amazônico.
De acordo com a gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Norte Energia, Andréia Antloga, a empresa busca alinhar o projeto aos objetivos da COP 30. “Ao financiar o projeto, fomentamos o desenvolvimento científico na região e colocamos à disposição de toda a população alternativas de eficiência e gestão energética”, explicou Antloga.
Especificações do Catamarã
Com 12 metros de comprimento e 6 metros de largura, o Poraquê conta com 22 placas solares fotovoltaicas instaladas em sua cobertura, dois motores elétricos de 12 KW cada (equivalente a motores de combustão de 20 HP) e três conjuntos de baterias capazes de armazenar 47 KW. Essa configuração tecnológica permite ao barco navegar por até 8 horas sem a necessidade de recarga, tornando-o ideal para longos trajetos nos rios da região.
O barco tem capacidade para transportar até 25 pessoas, incluindo espaço adaptado para cadeirantes, e realizará viagens regulares no Rio Guamá, em um percurso de 750 metros, com três paradas: no edifício Mirante do Rio, nos restaurantes universitários e no setor de saúde da UFPA. A expectativa é que a embarcação transporte até mil passageiros por dia, ajudando a desafogar o tráfego e proporcionando uma opção de transporte mais acessível e limpa.
Para garantir a autonomia energética do projeto, foi instalado no campus da UFPA um ponto de recarga abastecido por miniusinas solares, o que torna o projeto ainda mais sustentável. Esse posto de recarga permite que o Poraquê opere de forma contínua, utilizando exclusivamente energia renovável.
Impacto no Meio Ambiente e na Sociedade
O impacto ambiental do Poraquê é significativo. Somente o catamarã evitará a emissão de 100 toneladas de CO₂ por ano, o equivalente a retirar de circulação cerca de 30 veículos populares que rodam com combustíveis fósseis. Juntamente com os ônibus elétricos do SIMA, o projeto estima a redução total de 161 toneladas de gases de efeito estufa por ano.
Além disso, o projeto representa uma economia importante para as comunidades ribeirinhas, que dependem das embarcações para seu deslocamento e gastam uma parcela considerável de sua renda em combustíveis. Ao adotar uma embarcação elétrica, esses custos são reduzidos, trazendo benefícios econômicos e sociais para a população local.
Para o professor Emannuel Loureiro, da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA e responsável por liderar o projeto, a iniciativa vai além de uma simples inovação tecnológica. “Este barco é um laboratório para a universidade e uma conquista para a sociedade. Nossa expectativa é que esse projeto estimule o desenvolvimento de novos veículos e que, em pouco tempo, de 10% a 20% dos barcos da nossa região passem a ser movidos por energia limpa”, destacou.
Desafios e Expectativas Futuras
O desenvolvimento do Poraquê envolveu cerca de 30 pesquisadores, entre professores e alunos da UFPA, ao longo de quatro anos. O principal desafio foi adaptar as tecnologias disponíveis no mercado às necessidades específicas da Amazônia. A equipe precisou projetar um casco em alumínio naval que suportasse o peso adicional das baterias e motores elétricos, sem comprometer a navegabilidade e a eficiência do barco.
Outro ponto importante do projeto é sua replicabilidade. A expectativa é que o Poraquê seja o primeiro de muitos barcos elétricos a serem utilizados na região, com o objetivo de que 10% a 20% das embarcações da Amazônia sejam movidas a energia limpa nos próximos anos.
Além do catamarã, o SIMA inclui dois ônibus elétricos que operam no campus da UFPA, formando o primeiro corredor verde da Amazônia. A bateria desses veículos é carregada em estações de recarga instaladas nos dois campi, complementando o ecossistema de mobilidade sustentável.
O projeto também oferece um aplicativo, o Norte Rotas, que permite aos usuários acompanharem em tempo real os horários e trajetos dos ônibus e barcos, facilitando o planejamento de deslocamento e otimizando o uso dos modais.
Com o avanço da mobilidade elétrica e sustentável, a UFPA e a Norte Energia esperam que o Poraquê sirva de inspiração para outros projetos na região e que contribua para uma Amazônia mais limpa, conectada e sustentável.