Aumento na previsão de demanda de energia e medidas preventivas refletem a preocupação com os níveis dos reservatórios e o impacto da seca no sistema elétrico brasileiro
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) elevou sua previsão para o crescimento da carga de energia no Brasil em setembro de 2024, estimando agora uma alta de 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando 78.367 megawatts médios. Na semana anterior, o órgão havia projetado um crescimento de apenas 0,3%. A revisão da estimativa reflete uma demanda mais forte do que o esperado, à medida que o país atravessa um período seco que impõe desafios ao setor elétrico.
Além da carga de energia, o ONS também ajustou suas projeções para as chuvas nas principais bacias hidrográficas que abastecem as hidrelétricas. Houve uma revisão para baixo na previsão de chuvas para a região Sul, com as precipitações estimadas agora em apenas 36% da média histórica, ante 42% projetados na semana anterior. Por outro lado, as regiões Norte e Sudeste/Centro-Oeste tiveram pequenas revisões para cima: o Norte deve registrar 49% da média histórica de chuvas, enquanto o Sudeste/Centro-Oeste deve receber 49% (ante 50% anteriormente). No Nordeste, a previsão foi ajustada para 43%, uma leve redução em relação à estimativa anterior de 44%.
Reservatórios em alerta
Apesar de as chuvas estarem dentro do esperado em algumas regiões, o nível dos reservatórios das hidrelétricas, especialmente no Sudeste/Centro-Oeste — a região com maior capacidade de armazenamento do país —, continua preocupando. A estimativa do ONS é que os reservatórios dessa região terminem o mês de setembro com 47,4% da capacidade, uma leve queda em comparação aos 48% projetados na semana anterior. Esse será o nível mais baixo dos últimos três anos, mas ainda distante dos críticos 16% registrados em setembro de 2021, quando o Brasil enfrentou uma grave crise hídrica que quase resultou em apagões.
Essa escassez de chuvas aumenta a apreensão sobre o abastecimento de energia até o final do ano. O governo brasileiro, em conjunto com o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), já adotou uma série de medidas preventivas para evitar que a situação se agrave. Entre as ações estão o acionamento de usinas termelétricas a gás natural liquefeito (GNL) e a entrada de novas linhas de transmissão, visando melhorar o escoamento de energia entre regiões.
Custo Marginal de Operação dispara
Um dos reflexos imediatos da escassez de chuvas e do impacto nos reservatórios é o aumento do Custo Marginal de Operação (CMO), que mede o custo do megawatt-hora (MWh) para atender a um acréscimo de demanda no sistema elétrico. Para a próxima semana, o ONS estima que o CMO atingirá R$ 346,13/MWh, o valor mais alto desde outubro de 2021, quando o país ainda enfrentava os efeitos da crise hídrica. Na semana anterior, o CMO estava em R$ 277,76/MWh.
Esse aumento acentuado do CMO reflete o agravamento das condições hidrológicas, com a falta de chuvas pressionando o sistema elétrico. Desde junho de 2024, o CMO vem subindo consistentemente, após um período de estabilização no final de 2022 e início de 2023, quando chuvas favoráveis permitiram a recuperação parcial dos reservatórios. Apesar da recente elevação, o custo ainda está muito abaixo dos picos registrados em 2021, quando o CMO chegou a ultrapassar R$ 3 mil/MWh em seu pior momento.
Perspectivas para o restante do ano
Com o avanço da seca e a expectativa de chuvas ainda abaixo da média histórica, o governo e o ONS continuam atentos ao nível dos reservatórios e às condições hidrológicas. A estratégia atual, que inclui o acionamento de termelétricas e o reforço na infraestrutura de transmissão, visa preservar o máximo possível o armazenamento de água nas hidrelétricas até a chegada do período úmido, que normalmente começa em novembro.
O desafio, no entanto, é equilibrar o crescimento da demanda de energia com a limitação na oferta hídrica. O aumento de 1,5% na previsão de carga para setembro indica que o país segue em uma trajetória de recuperação econômica, o que eleva o consumo de energia em setores industriais e residenciais. Ao mesmo tempo, a dependência das condições climáticas continua sendo um fator de risco para o sistema elétrico brasileiro, especialmente em um ano de chuvas abaixo da média.
No curto prazo, o acionamento das termelétricas deve ajudar a garantir a estabilidade do fornecimento de energia, mas a um custo mais elevado, que poderá ser repassado ao consumidor em forma de tarifas mais altas. Já no médio e longo prazo, a diversificação da matriz energética, com o crescimento das fontes renováveis, como solar e eólica, e o fortalecimento do sistema de armazenamento de energia, será crucial para reduzir a vulnerabilidade do Brasil às variações climáticas e garantir uma oferta de energia mais estável e acessível.