Novo marco legal e grandes investimentos prometem posicionar o Brasil como líder global na produção de hidrogênio sustentável e avançar na descarbonização da economia
O Brasil está se preparando para um marco significativo na indústria de energia com a injeção de R$ 188,7 bilhões em mais de 20 projetos de hidrogênio verde, segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Este investimento é impulsionado pela recente aprovação da Lei 14.948, que estabelece o marco legal para o hidrogênio de baixo carbono, e posiciona o Brasil como um potencial líder global na produção e exportação desse combustível sustentável.
Marco Legal e Investimentos
A Lei 14.948, aprovada recentemente, é comparável em importância à Lei do Petróleo de 1998, que fomentou a exploração de hidrocarbonetos no país. Este novo marco legal cria uma base sólida para o desenvolvimento da cadeia produtiva do hidrogênio verde e reforça o compromisso do Brasil com a descarbonização de sua economia.
O estudo da CNI, intitulado “Hidrogênio Sustentável: Perspectivas para o Desenvolvimento e Potencial para a Indústria Brasileira”, revela que o Porto de Pecém, no Ceará, é o principal destino para os investimentos em hidrogênio, recebendo cerca de R$ 110,6 bilhões. Iniciado em fevereiro de 2021, o hub de Pecém é um projeto conjunto do governo do estado, Federação das Indústrias do Ceará (FIEC), Universidade Federal do Ceará (UFC) e Complexo do Pecém (CIPP S/A). Desde seu lançamento, foram assinados 34 memorandos de entendimento, resultando em quatro pré-contratos com empresas nacionais e internacionais.
Outros portos brasileiros também estão se destacando. O Porto de Parnaíba, no Piauí, está recebendo R$ 20,4 bilhões; Suape, em Pernambuco, conta com R$ 19,6 bilhões; e o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, tem investido R$ 16,5 bilhões. A crescente demanda e o interesse europeu na importação de hidrogênio e seus derivados são fatores chave que impulsionam esses investimentos.
Produção e Aplicações do Hidrogênio Verde
O hidrogênio verde é produzido a partir de fontes renováveis e é visto como uma solução crucial para a descarbonização de setores industriais que necessitam de calor em alta temperatura, como a produção de aço, vidro, química, alumínio e fertilizantes. Além disso, a produção de amônia verde, um composto químico vital para a agropecuária, está se destacando. A amônia é amplamente utilizada na produção de fertilizantes nitrogenados, e o Brasil, que ainda importa grandes quantidades desses fertilizantes, pode se beneficiar significativamente do desenvolvimento da produção interna de amônia a partir do hidrogênio verde.
A recente iniciativa entre a Vale e a Petrobras também destaca a amônia como uma alternativa para atividades logísticas, com a possibilidade de usar amônia verde como combustível marítimo. Esta parceria pode contribuir para a redução das emissões de carbono no setor de transporte marítimo.
Capacidade e Potencial de Geração
De acordo com o levantamento da CNI, o projeto de hidrogênio com maior capacidade de eletrólise será localizado no Porto de Parnaíba, com uma potência de 10 GW, suficiente para abastecer cerca de 15 milhões de pessoas, um número superior à população da cidade de São Paulo. Em termos de capacidade instalada, o Ceará lidera com 15,9 GW, seguido pelo Piauí com 15,6 GW e o Rio de Janeiro com 2,1 GW.
Demanda Global e Perspectivas Futuras
Atualmente, 87 países estão envolvidos em projetos de produção de hidrogênio de baixo carbono, com os principais países investidores sendo Alemanha, Estados Unidos, Austrália, Espanha e França. A base de dados da Agência Internacional de Energia (IEA) mostra uma aceleração na quantidade de novos projetos de hidrogênio a cada ano, com destaque para a Alemanha, Espanha e Estados Unidos.
Embora muitos projetos no Brasil visem a exportação, a produção descentralizada de hidrogênio verde, utilizando energia elétrica renovável da rede ou geração distribuída, oferece uma via promissora para o desenvolvimento da indústria. A produção local pode reduzir custos com transporte e impostos, além de aproveitar a energia renovável disponível no Brasil, que já alcançou 92% em 2022.
O diretor de Relações Institucionais da CNI, Roberto Muniz, ressalta a importância de priorizar projetos de hidrogênio na indústria nacional, que têm maior viabilidade econômica em comparação com os voltados para a exportação. A CNI recomenda a criação de uma política industrial para a estruturação de uma cadeia de fornecedores de hidrogênio no país, além de implementar um mercado de carbono e políticas para a produção de fertilizantes descarbonizados.